O engenheiro agrônomo Eduardo Eifert, mestre em zootecnia e doutor em nutrição de ruminantes fala sobre o sistema de intensificação rentável, utilizado no teste de desempenho de touro jovens da Embrapa Cerrados, mas que pode ser replicado também para o gado de corte. Entre as características desse sistema de produção está o uso do creep feeding, que ajuda a desenvolver potencial genético mais rapidamente e, até, a economizar com a dieta na fase da engorda.
“As medidas que tomamos na pecuária para um giro mais rápido do boi, com qualidade, demandam várias práticas que envolvem gerenciamento, tomada de decisões, ações técnicas tanto de manejo de pastagem quanto de manejo de nutrição, monitoramento do desempenho dos animais, logística e estar atento ao mercado, visando ao resultado final”, ponderou o pesquisador.
“Temos hoje um sistema de produção pecuária de 24 meses, em que os touros chegam com oito meses, passam 300 dias a pasto até chegar a mais ou menos 18 a 20 meses de idade, quando termina a prova e se faz uma classificação de todos esses animais. Essa classificação leva em consideração não só o desempenho em termos de crescimento, mas as características de crescimento, carcaça, que é feito por ultrassonografia, avaliação genética e a parte reprodutiva”, enumerou.
Embora o sistema sirva para identificar novos touros, o objetivo é aplicá-lo também no gado comercial, uma vez que é justamente na ponta onde o melhoramento genético visa a chegar. “O que é importante dizer é que esse sistema, mesmo sendo voltando para avaliação de genética, serve como pano de fundo para uma das estratégias que nós agrupamos aqui, que é receber o animal aos oito meses, mantê-lo na primeira seca após o desmame a pasto com suplementação para ganhar 400 gramas por dia e, na época das chuvas, das águas, continuar com suplementação. Não é o mesmo suplemento, já que a parte nutricional impera. Queremos que o animal aproveite da melhor maneira a fonte de fibra e proteína, que vem do pasto, mas que a quantidade de energia e proteína maximize a função ruminal e o desempenho desse animal economicamente dentro de um sistema a pasto. Assim, hoje eles estão ganhando, aqui nesse manejo, entre 900 gramas a um quilo por dia. Se fosse só a pasto, ganhariam entre 500 a 600 gramas”, detalhou Eifert.
Para que o animal atinja o desempenho desejável para que seja terminado com até 24 meses, partindo de um peso de 540 kg, o pesquisador valorizou a nutrição intensiva, desde a sua cria. “Na parte de cria, recebemos animais aqui logo após a desmama, aos oito meses. E o creep feeding é uma ferramenta bastante interessante, dependendo da situação da fazenda, das condições de produção, da intensidade desse sistema e do índice de natalidade. Com o uso do creep feeding, a partir dos 120 dias de idade do bezerro, esses animais chegam aqui com 20 a até 30 quilos mais pesados do que aqueles animais que não o receberam. São 20 a 30 quilos a mais na conta”, destacou.
Mas, não é somente o peso absoluto que favorece e antecipa a terminação desses animais que passaram pelo creep. “A partir disso, esse bezerro que chega aqui já conhece o cocho, porque ele está suplementando lá na fazenda de origem e exerce menos pressão na mãe para ingerir leite, o que desgasta menos a vaca, principalmente se é uma novilha, porque ainda está em crescimento. E uma terceira questão, que não se leva em conta,é que esse animal já está com o rúmen mais desenvolvido, já que consome ração e começa a ter não só o desenvolvimento em termos de bactéria, mas da capacidade digestiva, para logo depois ser desmamado. Ele vai ter que consumir um volume muito grande de pasto e, nesse caso, já tem uma limitação talvez um pouco menor”, resumiu o pesquisador.
O agrônomo comparou, então, o sistema de intensificação rentável com o tradicional. “Vamos pensar no sistema como um todo. Nós temos hoje propriedades que trabalham com o sistema tradicional, em que os animais são desmamados sem creep feeding, sem nada, com sete a nove meses de idade e pesando algo em torno de seus 200 kg. Esses animais recebem um proteinado na primeira seca, que vai dar ganhos de 200 gramas por dia. No final de toda uma seca, o animalzinho ganhou só 20 kg, o que é pouco, porque ele precisa de mais, já que está em desenvolvimento. É nesse período que ele deve colocar muito osso, toda a parte de carcaça, já que começa a ter formação e não pode ter o crescimento interrompido. Esse crescimento tem que ser linear, porque vai preparar o animal para dali a um ano para, praticamente, entrar no sistema de terminação, em que carcaça já tem que estar preparada. É um período de acabamento, não crescimento.
Quando trabalhamos em um sistema mais tradicional de planos nutricionais, quando chega em maio do ano seguinte, no final das águas ,o animal deve estar pesando algo em torno de 350 a 370 kg. E para chegar aos 520, 540 kg de carcaça, ele vai ter que colocar 150 a 170 kg no confinamento, o que significa mais tempo, mais investimento financeiro e o animal vai ter que passar por um período de crescimento antes do acabamento, o que encarece ainda mais”, advertiu o pesquisador da Embrapa.
Eifert destacou, entretanto, que cada propriedade vai encontrar seus caminhos para uma intensificação rentável. “Deve ser pensado, reajustado, já que cada propriedade depende de sua situação específica. Ninguém aqui está propondo fazer um sistema extremamente intensivo, mas cada propriedade tem a sua potencialidade, o que envolve vários fatores: fertilidade de solo da fazenda, potencial produtivo das pastagens, regime de chuvas, que é importante no Centro-Oeste, para tentar conciliar, e saber se é viável ou não intensificar o sistema”, salientou.
“O sistema pode ser intensificado tanto no uso de suplementação energética e proteica, com milho ou farelo de soja e seus subprodutos. O nutricionista calcula e indica a recomendação para diferentes fases do pasto e fases de crescimento animal, mas o produtor também tem que pensar: ou eu compro tudo fora ou eu produzo aqui. E dentro de cada fazenda é preciso saber se tem know-how, terra, clima, conhecimento e equipe formada para trabalhar todas as questões. A recomendação no papel é fácil, a execução é mais difícil”, disse Eduardo, antecipando os desafios do produtor.
O pesquisador resumiu qual foi o caminho encontrando para a Embrapa usado no teste de desempenho de touros jovens. “Qual é o sistema que a adotamos aqui? 400 gramas de meta na primeira seca e depois, 800 gramas no início das águas. E temos a média de um quilo por dia, tudo na base de suplemento. Esses animais estão ganhando hoje um quilo por dia e recebem 1,1 kg de concentrado para ganhar esse peso diário. É só fazer as contas. E perceber que uma coisa é ter o ganho individual e outra, é ter aumento de produtividade por área. Com essa situação, conseguimos atingir pesos altos, chegando em maio com algo em torno de 420 a 450 kg. Ou seja, para eles atingirem 540 kg no confinamento ou em sistema de engorda a pasto, é só uma terminação, muito menos do que aquela quantidade de concentrado que o animal consumiria no confinamento durante 100 dias, para ganhar 1,7 kg ou mais. Você transfere parte daquilo para alimentar os animais antes”, indicou.
Fonte: Giro do Boi
Data: 11/06/2021