Como nós destacamos no artigo anterior, o parto e os cuidados com os bezerros recém-nascidos são essenciais em uma fazenda de cria, principalmente pelo fato da mortalidade dos bezerros representar a maior fatia dos prejuízos nessa atividade.
Nesse artigo você irá entender como minimizar (ou erradicar) esse prejuízo financeiro e ao bem-estar dos animais.
- Nível aceitável de mortalidade de bezerros
- Identificação da causa da morte
- Como garantir uma boa colostragem
- Cura do umbigo
Nível aceitável de mortalidade de bezerros
A primeira pergunta que temos que nos fazer é: Qual a mortalidade de bezerros aceitável ao nosso sistema de produção? Se você pensou em algum número maior que ZERO, eu pediria que você começasse a rever seus conceitos. Por mais que saibamos ser difícil atingir essa meta, temos que tê-la como objetivo e explicamos o porquê.
Ao naturalizar qualquer morte, mesmo que em baixa ocorrência, poderemos no ano seguinte abrir uma pequena concessão. Por exemplo, em uma propriedade que tem 3% de mortalidade (lembrando que a média nacional está ao redor de 8%), se no ano seguinte esse número atingir 4%, iremos ver isso como normal, afinal, só 1%, “ainda estamos abaixo da média”. Mas, com o passar do tempo, poderemos atingir os 8% e diremos: “Mas estamos na média”!
Identificação da causa da morte
Nossa postura e abordagem devem ser, portanto, diferentes desse exemplo citado! Não podemos aceitar a morte, mesmo de um único bezerro, como sendo normal. Se morreu, temos que identificar a causa para que não ocorra novamente. O grande problema é que a maioria das fazendas não discrimina as mortes ou, quando o faz, coloca a culpa em fatores errados.
Quantas vezes não escutamos que a causa da morte foi “erva” ou “cobra”? Seria mais sincero dizer causa “desconhecida” e, assim, assumir uma limitação em identificar a causa. Mas, como comentado no artigo anterior, as maiores causas de mortalidade de bezerros têm origem em dois processos muito conhecidos: colostragem e cura do umbigo.
Como garantir uma boa colostragem
Para garantir uma boa colostragem dos bezerros recém-nascidos temos que nos preparar para a estação de nascimentos que, nas fazendas mais tecnificadas, compreende um período de 3 a 4 meses do ano. Assim que as primeiras vacas começarem a parir, deve-se coletar das fêmeas menos reativas e sadias o colostro de 1° dia. Esse colostro será a maior segurança a potenciais problemas que poderemos enfrentar durante a parição.
Ele deverá ser armazenado em garrafas plásticas de 500 ml (preferencialmente as de água mineral, por não conterem resíduos) em geladeira (por até 1 semana) ou freezer (por até 1 ano) e identificadas com o número da vaca doadora e a data de envase. Assim, caso alguma vaca mais reativa não facilite a ingestão de colostro de seu próprio bezerro, poderemos fazer uso dessa ferramenta para nutri-lo dentro do período adequado.
Vejamos! Um vaqueiro específico à maternidade deve ficar a postos para identificar o momento do parto e auxiliar, caso seja necessário. Esse materneiro deve garantir que os bezerros ingiram o colostro em até 6 horas após o parto (esse é o período ideal e, com tempo crítico, de 12h). Estudos indicam que em 6 horas após o parto, a eficiência do colostro em fornecer anticorpos aos animais é de 100% e que, após 12 horas, esse valor cai para 50%.
Caso o bezerro não consiga mamar dentro desse período, o materneiro deve auxiliar a vaca a fazê-lo. Em caso de vacas reativas e que potencialmente possam rejeitar o bezerro, ele pode utilizar-se do banco de colostro. Assim, ele fornece energia ao recém-nascido para que ele consiga mamar posteriormente sem ajuda.
Esse colostro será fornecido em temperatura ambiente e mamadeira própria, em quantidades de 500ml, duas ou três vezes, nesse primeiro dia. Com isso, podemos resolver uma parte das mortalidades.
Cura do umbigo
Já a cura do umbigo é um dos cuidados mais controversos, mas que iremos abordar de uma forma bem racional. Quando os bezerros saem de dentro das vacas, eles estão presos pelo cordão umbilical que se estica até que rompa. Com esse processo, ocorre uma compressão entre as paredes dessa estrutura, que nós chamamos de colabamento, ou seja, o tubo do cordão umbilical se fecha sobre si mesmo (achatamento) e a sua entrada fica naturalmente fechada à entrada de microrganismos.
Por isso mesmo, não devemos cortar o umbigo e, muito menos com as ferramentas normalmente utilizadas nas fazendas, como canivetes ou tesouras sujas (não esterilizadas). O corte só é recomendado no caso do rompimento ocorrer muito longe do bezerro e o umbigo ficar arrastando no chão. Mas, nessa situação, ele deve ser realizado com ferramentas limpas e esterilizadas, para que não sejam fontes de infecção.
E como procedemos então para a correta cura do umbigo?
Para essa finalidade, deve ser utilizada uma caneca sem retorno, muito comum na preparação das vacas leiteiras (pré-dipping) para a desinfecção de tetos. Colocamos iodo a 10% nessa caneca e mergulhamos completamente o umbigo até a base (encostando a borda na barriga do bezerro), nessa solução, por 30 segundos, com o animal em pé.
O iodo tem a propriedade de desinfetar e secar completamente o umbigo e essa imersão faz com que ele penetre por capilaridade nos vasos do umbigo. Assim, fechamos completamente a porta de entrada de microrganismos capazes de causar diarreia que pode, inclusive, levar a uma inflamação da veia umbilical (onfaloflebite), acarretando uma trombose aos bezerros.
Após a desinfecção com iodo o conteúdo do recipiente deve ser descartado e, por isso, deve se utilizar a caneca sem retorno.
Vejam que com esse procedimento não encostamos o umbigo dos bezerros em locais infectados, como currais ou até mesas utilizadas para o manejo dos animais, pelas quais vários bezerros passaram. Esse manejo acaba contaminando de forma cruzada os animais seguintes e por isso deve ser evitado.
Com essas duas soluções e cuidados apresentados, associados aos manejos prévios com as vacas, poderemos ver os índices de mortalidade cair a cada ano e almejar, sim, a mortalidade zero. Afinal, com a mortalidade em 0% o lucro é máximo.