Época é delicada e requer cuidados e um manejo especial
A época da gestação das fêmeas de um rebanho de corte é delicada e requer cuidados e um manejo especial, tanto para garantir a saúde das vacas quanto para propiciar um bom desenvolvimento dos bezerros.
Há ainda uma atenção especial no manejo sanitário, para evitar doenças graves, que causam abortos.
Nesta página, você vai encontrar um detalhamento sobre:
- a duração da gestação do gado de corte;
- o intervalo entre os partos;
- a importância desse período;
- os cuidados com a vaca;
- as práticas mais recomendadas;
- como é feito o diagnóstico de gestação;
- as principais doenças que causam abortos e como preveni-las.
Boa leitura!
O que é a gestação de gado de corte?
Gestação no gado de corte é o período entre o acasalamento que resultou em prenhez, que pode ser por monta natural, inseminação artificial ou transferência de embriões, e o nascimento, ou seja, o período em que a vaca fica prenhe.
Qual é a duração da gestação do gado de corte?
A duração média da gestação das vacas é de cerca de nove meses e meio, ou 290 dias.
Qual é o intervalo médio entre partos em gado de corte?
O intervalo médio entre os partos no gado de corte vai depender do sistema de pecuária.
Nos sistemas de pecuária extensiva, o intervalo é de 20 a 24 meses. Já nos sistemas de pecuária intensiva, o intervalo pode ser reduzido para até 12 a 13 meses de duração. E este deve ser o objetivo de uma fazenda de cria: conseguir fazer com que as vacas produzam um bezerro por ano.
Qual é a importância do período de gestação do gado de corte?
Uma vaca bem cuidada, especialmente durante a gestação, é sinônimo de um bezerro saudável.
No artigo “Programando um bezerro de qualidade”, é destacado que “o desempenho de bovinos do nascimento ao abate ou durante a produção de leite, pode ser influenciado pela dieta da mãe durante a gestação e lactação”.
Ou seja, a nutrição e os demais cuidados despendidos com a vaca durante a gestação traz efeitos indiretos no desempenho e na qualidade dos produtos gerados durante toda a vida do animal.
Como é feito o diagnóstico de gestação em gado de corte?
O diagnóstico de gestação tem o principal objetivo de identificar as fêmeas que não ficaram prenhes. Ele normalmente é feito de 45 a 60 dias após o final da monta, mas esse período depende da técnica utilizada.
O diagnóstico deve ser feito por um médico-veterinário, que pode utilizar o método da palpação retal simples ou da palpação retal com auxílio de aparelho de ultrassonografia.
O documento “Técnicas de manejo reprodutivo em bovinos de corte” (2000), da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), destaca que as fêmeas vazias devem ser descartadas do rebanho antes do início do inverno.
Isso porque elas ainda não perderam peso e seu descarte “aumenta a disponibilidade de forrageiras para as fêmeas prenhes durante o terço final de gestação, quando as exigências nutricionais se elevam, devido ao acentuado desenvolvimento do feto”.
O documento alerta que um número muito elevado de fêmeas vazias pode ser resultado:
- da restrição alimentar após períodos de seca prolongados;
- da fertilidade e capacidade reprodutiva dos touros;
- da incidência de doenças ainda não diagnosticadas.
Ou seja, o diagnóstico também é importante para detectar eventuais problemas no sistema e corrigi-los.
É o que também defende Alessandra Corallo Nicacio, pesquisadora em reprodução animal da Embrapa, no artigo “A relevância do diagnóstico de gestação em gado de corte”, de 2020:
“O diagnóstico de gestação (DG) não é uma prática obrigatória, mas é altamente recomendada. [...] A partir dele é possível obter informações sobre aspectos reprodutivos e produtivos, como índice de prenhez, estimar perdas gestacionais, direcionar descartes, entre outros. E, de posse dessas informações, é possível identificar possíveis problemas, permitindo atuar diretamente nas causas, melhorando a produtividade da propriedade.”
Quais os cuidados que se deve ter com a vaca durante o período de gestação?
O principal cuidado diz respeito à nutrição das vacas. No Brasil, é comum que os partos aconteçam entre julho e outubro. Por isso, os dois terços finais da gestação normalmente acontecem em um período de seca, quando as pastagens são mais restritas.
O recomendado é, portanto, oferecer a suplementação para as vacas durante a gestação, para que elas atinjam as exigências nutricionais adequadas.
O objetivo é que as vacas cheguem a um bom estado nutricional, com escore de condição corporal próximo de 3 a 3,5, em uma escala de 1 a 5. Isso é importante tanto para o desenvolvimento do bezerro quanto para o desempenho reprodutivo das vacas no futuro.
Quais são as práticas recomendadas durante a gestação do gado de corte?
Além dos cuidados com a nutrição, abordados no tópico anterior, o chamado manejo de maternidade – que começa na preparação da vaca para o parto e termina após a cicatrização do umbigo do bezerro nascido – preconiza:
- Vacinação: vacas imunizadas podem produzir colostro de boa qualidade e garantir imunidade ideal aos bezerros. “As principais vacinas aplicadas durante a gestação são as que protegem contra agentes causadores da diarreia neonatal (como a E. coli e a Salmonella dublin), pneumonias (IBR, BVD, Pasteurella multocida e Mannheimia haemolytica) e doenças clostridiais (Carbúnculo Sintomático, Enterotoxemia e outras)”.
- Estrutura adequada: ela é essencial durante a gestação e para garantir um bom parto. O ambiente do piquete deve ser limpo, seco, arejado, seguro, com sombra, água fresca e comida suficiente. Isso vale também para a maternidade, onde ficarão os bezerros recém-nascidos, que precisam de cuidados como aferição do peso, identificação, cura do umbigo e aplicação de medicamentos.
Quais as principais causas de aborto em gado de corte e como preveni-las?
As principais causas de aborto no gado de corte, segundo a Embrapa, são:
- traumatismos de manejo;
- estresse;
- malnutrição;
- problemas genéticos;
- doenças.
Entre as doenças que mais causam abortos, estão as seguintes:
- brucelose,
- leptospirose,
- tricomonose,
- campilobacteriose,
- rinotraqueíte infecciosa (IBR),
- diarreia viral bovina (BVD), entre outras.
Veja, a seguir, um detalhamento maior sobre cada uma delas.
Brucelose
A brucelose é uma doença causada pela bactéria Brucella abortus, que gera prejuízos na produção, provocando abortos, além de riscos à saúde pública, por se tratar de uma zoonose, podendo ser transmitida aos humanos.
Normalmente, a vaca prenhe elimina grandes quantidades da bactéria no parto ou no aborto, e durante até 30 dias após o parto, contaminando pastagens, a água e os alimentos, que podem infectar outros animais, principalmente durante a alimentação.
A doença pode causar abortos e infertilidade nos animais infectados, além de contribuir para o nascimento de bezerros fracos ou natimortos.
A melhor forma de prevenção contra a brucelose é a vacinação. No Brasil, são usadas a B19 e a RB51, ambas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde Animal:
- as fêmeas bovinas e bubalinas devem ser vacinadas entre 3 e 8 meses de idade, em dose única, com a B19;
- a vacinação de fêmeas bovinas e bubalinas com mais de 8 meses pode ser feita com a vacina RB51.
Outra recomendação, conforme o manual orientador da Embrapa “Boas práticas agropecuárias: bovinos e bubalinos de corte”, de 2022, é que o produtor introduza apenas animais com laudo negativo para a brucelose em seu rebanho e que busque o reconhecimento de “Estabelecimento de Criação Certificado” ou “Certificação para a Condição de Livre de Brucelose”.
Leptospirose
Trata-se de uma zoonose que pode causar diversos prejuízos econômicos, como:
- perdas causadas por infertilidade e abortos;
- queda na produção de carne;
- despesas com medicamentos e com atendimentos de veterinários.
Além disso, é uma doença que pode ser transmitida aos humanos, causar quadros graves e até mesmo a morte das pessoas infectadas.
A melhor forma de prevenção é a vacinação dos rebanhos, com reforço cerca de quatro semanas após a primeira dose, além de revacinação anual ou até mesmo semestral.
Outras formas de controle preconizadas pelo manual da Embrapa incluem:
- vacinação anual de todos os cães da propriedade rural;
- combate aos roedores;
- higienização periódica de bebedouros e evitar o uso de açudes.
Tricomonose
Trata-se de uma doença contagiosa, sexualmente transmissível, causada pelo Trichomonas foetus. Ela pode causar a morte embrionária precoce, abortos e infecções.
Normalmente o touro é o foco de infecção, principalmente os mais velhos, que costumam alojar os parasitas sem apresentar sintomas.
O artigo “Estratégias para aumento da eficiência reprodutiva e produtiva em bovinos de corte”, da Embrapa, destaca que o custo do tratamento individual dos touros positivos é alto. Portanto, “o descarte dos touros infectados, reconhecidos por exame laboratorial, como também dos touros mais antigos é uma alternativa de controle”.
Campilobacteriose
Trata-se de uma doença causada pelo Campylobacter fetus venerealis, que costuma ser transmitido pelo touro contaminado, na hora da monta.
É uma bactéria que causa infertilidade temporária e morte embrionária precoce.
A melhor forma de controle é a eliminação do rebanho daqueles touros testados positivos por meio de exame em laboratório.
Rinotraqueíte infecciosa
A rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR) é provocada por um herpesvírus tipo I e causa abortos e mortes de bezerros recém-nascidos.
A transmissão pode ocorrer tanto no coito quanto por meio do sêmen congelado.
A melhor forma de controlar a doença é por meio de um programa eficiente de vacinação do rebanho.
Diarreia viral bovina
A diarréia viral bovina, também conhecida pela sigla BVD, ocorre pela transmissão do vírus por meio da placenta ou pelo contato direto entre os animais, fezes e fetos abortados. O sêmen do touro infectado também pode contaminar as vacas durante a estação de monta, tanto pelo coito quanto pela inseminação.
O artigo da Embrapa citado por último lista os problemas causados pela doença:
“A BVD provoca abortos, principalmente durante os primeiros três ou quatro meses de gestação, infertilidade, defeitos congênitos e atraso no desenvolvimento dos animais infectados. A diarréia aparece como sintoma, geralmente em rebanhos contaminados, na faixa etária de seis meses a um ano de idade.”
A principal forma de controle destacada é a eliminação de animais persistentemente infectados (PI) e a vacinação anual do rebanho.