Forragem, suplementação e o planejamento para a estação seca

Postado por Adriano Paiva e Murilo Chuba

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A pecuária brasileira tem como característica principal a produção de animais em pastagens, um sistema que tem atraído muito interesse na pauta da sustentabilidade. O período de seca geralmente é o mais desafiador, pois a estacionalidade de produção pode levar a desequilíbrios entre a oferta de forragem e a demanda pelos animais, ocasionando degradação das pastagens, baixo desempenho animal, e comprometendo assim, o sistema de produção. 

Sabemos que o período de seca geralmente se estende de abril a setembro, repetindo-se anualmente. Isso permite que o pecuarista se planeje para esta época de produção limitada. Uma das estratégias é o diferimento (vedação) das pastagens, onde se busca garantir quantidade de forragem suficiente para os animais nessa estação (Santos et al., 2018). Neste sistema, há um desequilíbrio entre a quantidade e a qualidade da forragem. Isso faz com que estratégias de suplementação sejam necessárias para que as metas de produção sejam alcançadas. 

Sabemos que o período de seca geralmente se estende de abril a setembro, repetindo-se anualmente. Isso permite que o pecuarista se planeje para esta época de produção limitada.

Qual o objetivo da suplementação? 

A suplementação é uma estratégia que busca corrigir as deficiências da forragem, fornecer aditivos alimentares, reduzir a idade ao abate, aumentar o peso final dos animais, gerando um aproveitamento melhor da carcaça. Como resultado, temos o aumento da eficiência, da rentabilidade e da sustentabilidade das propriedades rurais. Seu principal objetivo é maximizar a ingestão de pasto e, consequentemente, o consumo de energia pelos animais. 

A resposta do rebanho à suplementação (Gráfico 1. Consumo de suplemento x desempenho) é influenciada pela quantidade e pelo tipo de suplemento utilizado, sendo que a escolha deste dependerá da disponibilidade e qualidade da forragem e da meta de GMD da propriedade. 


Gráfico demonstrando o ganho médio diário em função de níveis de suplementação no período da seca.


Os benefícios da suplementação 

A suplementação traz benefícios devido ao ajuste nos teores de proteína, energia e minerais da dieta, melhorando a condição de fermentação ruminal pelos microrganismos. Porém, este processo de fermentação ruminal pode sofrer perdas de energia e proteína (Tonello, 2008). Os dois exemplos clássicos dessas perdas são a produção de metano e a reciclagem da ureia no fígado. Uma maneira de diminuir essas perdas e aumentar a eficiência por parte dos animais é por meio da utilização ionóforos, como a monensina e a narasina, nos suplementos. A monensina é indicada para suplementos de consumo mais elevados (acima de 0,3% do peso vivo) devido à sua influência negativa na ingestão de suplementos com baixa fontes de farelos e palatabilizantes. Em contrapartida, a narasina não possui efeito deletério na ingestão, podendo ser utilizada em suplementos de baixo consumo, como sal mineral adensado e proteicos 0,1 a 0,3% do peso vivo, ambos com expressiva melhora no GMD. 


Uma maneira de diminuir essas perdas (de energia e proteína no rúmen) e aumentar a eficiência por parte dos animais é por meio da utilização de ionóforos, como a monensina e a narasina, nos suplementos.

Conhecendo os diferentes tipos de suplementos 

  • Sal mineral adensado – Mineral aditivado, com 10 a 20% de farelos e 140g de NNP equivalente de PB/kg de suplemento, fornecido na quantidade de 0,5g para cada kg de PC; 
  • Suplemento proteico (0,1%) – Suplemento proteico com 50% de PB, contendo aditivo ionóforo e fornecido na quantidade de 1g para cada kg de PC; 
  • Suplemento proteico energético (0,3%) – Suplemento proteico energético com 25% de PB e 65% de NDT, fornecido na quantidade de 3g para cada kg de PC; 
  • Suplemento proteico energético (0,5%) – Suplemento proteico energético com 25% de PB e 65% de NDT, fornecido na quantidade de 5g para cada kg de PC; 


Ganhos esperados e viabilidade econômica das diferentes estratégias nutricionais 

Abaixo mostramos os ganhos esperados por nível de suplementação e tecnologias possíveis de serem utilizadas, pensando no objetivo de arrobas a serem produzidas durante o período de seca. 

 

Tabela 1 – Desempenho de animais, em diferentes estratégias nutricionais durante a estação seca. Avaliação de 180 dias (adaptado de Fernandes et al, 2018) 

Suplemento 

GMD (kg) 

Ganho (@) 

Dias para ganhar 1 @ 

Sal mineral 

0,05 

0,30 

600 

Sal mineral adensado 

0,12 

0,72 

250 

0,1% PC 

0,25 

1,50 

120 

0,3% PC 

0,35 

2,10 

86 

0,5% PC 

0,43 

2,58 

70 

 

Os dados da tabela 1 demonstram que o diferencial de resposta entre os níveis de suplementos em relação ao sal mineral é crescente, e que as diferenças se mantêm de acordo com a qualidade do pasto. No entanto, o que realmente conta é a viabilidade econômica, como pode ser observado na tabela 2. 

 

Tabela 2 – Desembolso e custo da @ produzida durante a estação seca por um animal com peso médio de 300 kg em função do nível de suplementação. Consumo de sal mineral 100g/animal/dia (adaptado de Fernandes et al, 2018) 

Desembolso com suplemento na seca (R$ em 180 dias) 

R$/kg suplemento 

Sal mineral 

Sal adensado 

0,1% PC 

0,3% PC 

0,5% PC 

2,2 

39,6 

59,4 

118,8 

237,6 

594,0 

2,6 

46,8 

70,2 

140,4 

280,8 

702,0 

3,1 

55,8 

83,7 

167,4 

334,8 

  

3,5 

63,0 

94,5 

189,0 

  

  

4,0 

72,0 

108,0 

  

  

  



Custo suplementar da @ produzida

R$/kg suplemento

Sal mineral 

Sal adensado 

0,1% PC 

0,3% PC 

0,5% PC 

2,2 

132,0 

82,5 

79,2 

113,1 

230,2 

2,6 

156,0 

97,5 

93,6 

133,7 

272,1 

3,1 

186,0 

116,3 

111,6 

159,4 

  

3,5 

210,0 

131,3 

126,0 

  

  

4,0 

240,0 

150,0 

  

  

  


Avaliando a tabela 2, pode-se notar que os suplementos sal adensado, 0,1% e 0,3% são os que apresentam melhor custo da @ produzida. Porém, não devemos avaliar somente o desembolso da suplementação, esquecendo os demais custos, como o ágio de compra do bezerro e o tempo de permanência na propriedade. A meta de GMD e, consequentemente, a produtividade de @ durante a estação seca devem ser levadas em consideração na escolha do nível nutricional do suplemento a ser utilizado, bem como a quantidade e a qualidade das pastagens disponíveis para os animais. 

Em resumo, a decisão sobre o nível de suplementação em detrimento do estoque de pasto, categoria dos animais e suas exigências, pode ser a chave do sucesso dentro da fazenda na seca e no período de águas também, devendo ser, portanto, muito bem estudada e fundamentada. 

  • Dórea, João Ricardo Rebouças, Níveis de suplemento energético para bovinos em pastagens tropicais e seus efeitos no consumo de forragem e fermentação ruminal. Piracicaba, 2010. 
  • Fernandes, Rodolfo Maciel; Mota. Verônica Aparecida costa; Silva, Naiara Caixeta. As 7@ da recria começam na estação seca. In: Resende, Flávio Dutra; Siqueira, Gustavo Rezende; Oliveira, Ivanna Moraes. Entendendo o Conceito Boi 777. Jaboticabal: 2018. p.123-132. 
  • Santos, Manoel Eduardo Rozalino; Fonseca, Dilermando Miranda; Souza, Braulio Maia de Lana; Rocha, Gabriel de Oliveira; Carvalho, Angélica Nunes; Carvalho, Rafael Mendonça; Carvalho, Bruno Humberto Rezende. Todo ano tem seca. Está preparado? In: Resende, Flávio Dutra; Siqueira, Gustavo Rezende; Oliveira, Ivanna Moraes. Entendendo o Conceito Boi 777. Jaboticabal: 2018. p.107-121. 
  • Tonello, Cleiton Luiz, Suplementação de bovinos de corte em pastagens: forragem, época do ano e tipo de suplemento. Maringá, 2008. 

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