A pecuária brasileira tem como característica principal a produção de animais em pastagens, um sistema que tem atraído muito interesse na pauta da sustentabilidade. O período de seca geralmente é o mais desafiador, pois a estacionalidade de produção pode levar a desequilíbrios entre a oferta de forragem e a demanda pelos animais, ocasionando degradação das pastagens, baixo desempenho animal, e comprometendo assim, o sistema de produção.
Sabemos que o período de seca geralmente se estende de abril a setembro, repetindo-se anualmente. Isso permite que o pecuarista se planeje para esta época de produção limitada. Uma das estratégias é o diferimento (vedação) das pastagens, onde se busca garantir quantidade de forragem suficiente para os animais nessa estação (Santos et al., 2018). Neste sistema, há um desequilíbrio entre a quantidade e a qualidade da forragem. Isso faz com que estratégias de suplementação sejam necessárias para que as metas de produção sejam alcançadas.
Sabemos que o período de seca geralmente se estende de abril a setembro, repetindo-se anualmente. Isso permite que o pecuarista se planeje para esta época de produção limitada.
Qual o objetivo da suplementação?
A suplementação é uma estratégia que busca corrigir as deficiências da forragem, fornecer aditivos alimentares, reduzir a idade ao abate, aumentar o peso final dos animais, gerando um aproveitamento melhor da carcaça. Como resultado, temos o aumento da eficiência, da rentabilidade e da sustentabilidade das propriedades rurais. Seu principal objetivo é maximizar a ingestão de pasto e, consequentemente, o consumo de energia pelos animais.
A resposta do rebanho à suplementação (Gráfico 1. Consumo de suplemento x desempenho) é influenciada pela quantidade e pelo tipo de suplemento utilizado, sendo que a escolha deste dependerá da disponibilidade e qualidade da forragem e da meta de GMD da propriedade.
Os benefícios da suplementação
A suplementação traz benefícios devido ao ajuste nos teores de proteína, energia e minerais da dieta, melhorando a condição de fermentação ruminal pelos microrganismos. Porém, este processo de fermentação ruminal pode sofrer perdas de energia e proteína (Tonello, 2008). Os dois exemplos clássicos dessas perdas são a produção de metano e a reciclagem da ureia no fígado. Uma maneira de diminuir essas perdas e aumentar a eficiência por parte dos animais é por meio da utilização ionóforos, como a monensina e a narasina, nos suplementos. A monensina é indicada para suplementos de consumo mais elevados (acima de 0,3% do peso vivo) devido à sua influência negativa na ingestão de suplementos com baixa fontes de farelos e palatabilizantes. Em contrapartida, a narasina não possui efeito deletério na ingestão, podendo ser utilizada em suplementos de baixo consumo, como sal mineral adensado e proteicos 0,1 a 0,3% do peso vivo, ambos com expressiva melhora no GMD.
Uma maneira de diminuir essas perdas (de energia e proteína no rúmen) e aumentar a eficiência por parte dos animais é por meio da utilização de ionóforos, como a monensina e a narasina, nos suplementos.
Conhecendo os diferentes tipos de suplementos
- Sal mineral adensado – Mineral aditivado, com 10 a 20% de farelos e 140g de NNP equivalente de PB/kg de suplemento, fornecido na quantidade de 0,5g para cada kg de PC;
- Suplemento proteico (0,1%) – Suplemento proteico com 50% de PB, contendo aditivo ionóforo e fornecido na quantidade de 1g para cada kg de PC;
- Suplemento proteico energético (0,3%) – Suplemento proteico energético com 25% de PB e 65% de NDT, fornecido na quantidade de 3g para cada kg de PC;
- Suplemento proteico energético (0,5%) – Suplemento proteico energético com 25% de PB e 65% de NDT, fornecido na quantidade de 5g para cada kg de PC;
Ganhos esperados e viabilidade econômica das diferentes estratégias nutricionais
Abaixo mostramos os ganhos esperados por nível de suplementação e tecnologias possíveis de serem utilizadas, pensando no objetivo de arrobas a serem produzidas durante o período de seca.
Tabela 1 – Desempenho de animais, em diferentes estratégias nutricionais durante a estação seca. Avaliação de 180 dias (adaptado de Fernandes et al, 2018)
Suplemento | GMD (kg) | Ganho (@) | Dias para ganhar 1 @ |
Sal mineral | 0,05 | 0,30 | 600 |
Sal mineral adensado | 0,12 | 0,72 | 250 |
0,1% PC | 0,25 | 1,50 | 120 |
0,3% PC | 0,35 | 2,10 | 86 |
0,5% PC | 0,43 | 2,58 | 70 |
Os dados da tabela 1 demonstram que o diferencial de resposta entre os níveis de suplementos em relação ao sal mineral é crescente, e que as diferenças se mantêm de acordo com a qualidade do pasto. No entanto, o que realmente conta é a viabilidade econômica, como pode ser observado na tabela 2.
Tabela 2 – Desembolso e custo da @ produzida durante a estação seca por um animal com peso médio de 300 kg em função do nível de suplementação. Consumo de sal mineral 100g/animal/dia (adaptado de Fernandes et al, 2018)
Desembolso com suplemento na seca (R$ em 180 dias)
R$/kg suplemento | Sal mineral | Sal adensado | 0,1% PC | 0,3% PC | 0,5% PC |
2,2 | 39,6 | 59,4 | 118,8 | 237,6 | 594,0 |
2,6 | 46,8 | 70,2 | 140,4 | 280,8 | 702,0 |
3,1 | 55,8 | 83,7 | 167,4 | 334,8 |
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3,5 | 63,0 | 94,5 | 189,0 |
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4,0 | 72,0 | 108,0 |
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Custo suplementar da @ produzida
R$/kg suplemento | Sal mineral | Sal adensado | 0,1% PC | 0,3% PC | 0,5% PC |
2,2 | 132,0 | 82,5 | 79,2 | 113,1 | 230,2 |
2,6 | 156,0 | 97,5 | 93,6 | 133,7 | 272,1 |
3,1 | 186,0 | 116,3 | 111,6 | 159,4 |
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3,5 | 210,0 | 131,3 | 126,0 |
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4,0 | 240,0 | 150,0 |
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Avaliando a tabela 2, pode-se notar que os suplementos sal adensado, 0,1% e 0,3% são os que apresentam melhor custo da @ produzida. Porém, não devemos avaliar somente o desembolso da suplementação, esquecendo os demais custos, como o ágio de compra do bezerro e o tempo de permanência na propriedade. A meta de GMD e, consequentemente, a produtividade de @ durante a estação seca devem ser levadas em consideração na escolha do nível nutricional do suplemento a ser utilizado, bem como a quantidade e a qualidade das pastagens disponíveis para os animais.
Em resumo, a decisão sobre o nível de suplementação em detrimento do estoque de pasto, categoria dos animais e suas exigências, pode ser a chave do sucesso dentro da fazenda na seca e no período de águas também, devendo ser, portanto, muito bem estudada e fundamentada.
- Dórea, João Ricardo Rebouças, Níveis de suplemento energético para bovinos em pastagens tropicais e seus efeitos no consumo de forragem e fermentação ruminal. Piracicaba, 2010.
- Fernandes, Rodolfo Maciel; Mota. Verônica Aparecida costa; Silva, Naiara Caixeta. As 7@ da recria começam na estação seca. In: Resende, Flávio Dutra; Siqueira, Gustavo Rezende; Oliveira, Ivanna Moraes. Entendendo o Conceito Boi 777. Jaboticabal: 2018. p.123-132.
- Santos, Manoel Eduardo Rozalino; Fonseca, Dilermando Miranda; Souza, Braulio Maia de Lana; Rocha, Gabriel de Oliveira; Carvalho, Angélica Nunes; Carvalho, Rafael Mendonça; Carvalho, Bruno Humberto Rezende. Todo ano tem seca. Está preparado? In: Resende, Flávio Dutra; Siqueira, Gustavo Rezende; Oliveira, Ivanna Moraes. Entendendo o Conceito Boi 777. Jaboticabal: 2018. p.107-121.
- Tonello, Cleiton Luiz, Suplementação de bovinos de corte em pastagens: forragem, época do ano e tipo de suplemento. Maringá, 2008.