Vamos dar um passo para trás em relação ao manejo racional e bem-estar animal (MR.BEA). Um dos conceitos mais utilizados para entender como proceder com os animais, como se posicionar e como eles reagem aos seres humanos, é a distância de fuga. E o que seria isso?
Neste artigo veremos o que é a distância de fuga, sua importância ao manejo, a influência do manejo e da herdabilidade e, por fim, a quebra do círculo vicioso da distância de fuga x manejo.
- A distância de fuga
- Importância da distância de fuga ao manejo
- O manejo e a herdabilidade
- A quebra do círculo vicioso da distância de fuga x manejo
A distância de fuga
A distância de fuga é a distância máxima de aproximação (ou limite mínimo) que um animal permite que um outro ser vivo se aproxime dele antes que ele fuja. Esse limite comumente não é uma linha tênue, mas sim uma faixa que pode variar de acordo com a situação em que o animal se encontra, se em área aberta ou em uma localidade com obstáculos. Dentro desse limite se encontra, ainda, uma linha crítica a partir da qual, impedido de fugir, o animal muda sua postura de fuga para o modo ataque. É quando ele ataca não por ser feroz ou bravo e, sim, por defesa ou medo.
Importância da distância de fuga ao manejo
Mas, por que a distância de fuga é importante ao manejo? Tomemos como exemplo uma das divisórias de um curral, que tenha 10 metros de lado (um quadrado, portanto). E nessa divisória colocamos animais com uma distância de fuga de 12 metros, ou seja, 2 metros a mais que o limite mínimo aceitável por eles. O que esses animais fariam se, nessa divisória, entrasse um vaqueiro, mesmo que próximo à porteira de saída? É bem provável que, inicialmente, esses animais tentariam sair daquele lugar, se debatendo na cerca oposta ao posicionamento do vaqueiro e que, após constatarem não haver saída naquela direção, tomassem a decisão de “atacar” a pessoa em questão na direção da saída (no caso, a porteira onde o vaqueiro se encontra).
E se, ao invés de animais com essa distância de fuga de 12 metros, o grupo tivesse um limite mínimo de 3 metros, o que aconteceria? A probabilidade seria de que os animais se mantivessem a no mínimo 3 metros do manejador e, à medida que ele se aproximasse deles, recuariam até encontrar a resistência da cerca oposta. Nesse caso, ao abrir espaço de passagem para um dos lados nessa divisória do curral, os animais iriam se deslocar na direção da porteira.
Percebam que, nesse segundo caso (3 metros de distância de fuga), o manejo com os animais é muito mais fácil do que no primeiro, pois podemos ter maior controle sobre eles, deslocando-os de maneira ordenada, fazendo com que passem pela porteira em fila, “afinando” o grupo de modo que não batam nas laterais dessa saída. Mas o que faz com que esses animais modifiquem esse limite? Por que alguns têm uma distância de fuga maior e outros, uma menor? A resposta simplificada é: manejo!
O manejo e a herdabilidade
Mas, o manejo nem sempre é tão simples assim. Obviamente a reatividade de um animal - característica de seu temperamento relacionada à reação ao modo como lidamos com eles - tem origem genética. Porém, grande parte de sua manifestação não pode ser respondida pela genética, pois sua herdabilidade (capacidade de passar a característica aos descendentes) varia de fraca a moderada. Ou seja, a maior parte de sua manifestação está ligada ao ambiente (manejo) ou à sua história de vida. E o que nós temos a ver com isso? Muita coisa! Vejamos!
Em todas as interações que temos com os animais, desde o seu nascimento, quando arrastamos bezerros, derrubamos eles no chão e, posteriormente, nos ajoelhamos em cima deles para fazer a “cura” do umbigo; até o momento em que arrastamos aquele que não querem entrar no curral e utilizamos “ferramentas” como ferrões ou bastões elétricos, estamos “ensinando” a terem medo do ser humano. Com esse tipo de manejo, mais hostil, fazemos com que a distância de fuga dos animais fique cada vez maior. E, quanto maior a distância de fuga, pior o manejo. E, assim, se forma um círculo vicioso em que: “quanto pior o manejo hoje, pior será amanhã!” Como quebrar esse ciclo?
A quebra do círculo vicioso da distância de fuga x manejo
É muito comum escutarmos a seguinte justificativa para esse tipo de manejo: “Como o animal é bruto, temos que agir com brutalidade” ou, ainda, “Quando comprei esse animal, ele já era assim e não consigo fazer diferente”. É preciso mudar! Mas como? Nessa relação entre seres humanos e animais, quem é (ou deveria ser) racional? Nós! Os animais, frequentemente são reativos, ou seja, reagem ao que fazemos com eles.
Quem deve quebrar esse ciclo, executando ações diferentes que possam mudar a reação dos animais, somos nós. Temos que ser proativos. Quando, ao invés de arrastar um animal, colocamos outros animais do mesmo grupo com ele, para estimulá-lo a entrar em uma instalação. Ou, ainda, quando oferecemos algum tipo de recompensa, como uma quirela de milho, por exemplo, por ele executar um movimento que queremos, estamos preparando esse animal para o bom manejo ao utilizar um condicionamento com reforço positivo. À medida que esse manejo vai se tornando regular, os animais tendem a mudar a visão que tinham do ser humano até aquele dado momento e estabelecem uma relação de confiança conosco.
E o que acontece com o manejo a partir de então? Ele fica cada vez mais fácil, com os animais sendo “embretados” cada vez mais rápido, facilitando nosso trabalho e, ao mesmo tempo, diminuindo os riscos de acidentes para os animais e manejadores. E, assim, poderemos mudar a frase dita anteriormente para: “Quanto melhor o manejo hoje, melhor será amanhã!”
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