Falar sobre bem-estar gera um misto de sentimentos. Há quem considere o assunto uma utopia, há quem tentou implementar e se deparou com muitos desafios da realidade da pecuária extensiva e, ainda, os que tiveram êxito.
Não podemos negar que o assunto deve estar na mesa, no curral e nas pastagens de todo pecuarista. Sou uma entusiasta desse assunto porque vivi e cresci em meio às mudanças positivas que as boas práticas de produção trouxeram para nosso sistema de cria.
Não existe bem-estar sem envolver pessoas e aí é que está um dos grandes gargalos.
Como ter êxito na implementação das boas práticas? Não tem como amar uma ideia sem entendê-la. Um vaqueiro não pode ser apenas um vaqueiro, ele é responsável por vidas, por alimentar pessoas, por girar uma cadeia. Entender essa dimensão, mesmo que na simplicidade, é crucial.
Aqui na Cedro, trabalhamos com metas de redução da mortalidade e de acidentes, mas o exemplo precisa partir de nós, proprietários e técnicos, dando as condições para que o pessoal que está de fato, no dia a dia, consiga exercer as boas práticas com os animais.
O engajamento só existe se o colaborador se sentir participante e perceber que aquilo que ele faz tem um impacto em toda uma cadeia e, inclusive, na vida dele. As pessoas do campo precisam de reconhecimento também com uma remuneração adequada, o que é muitas vezes negligenciado. Na Cedro trabalhamos com metas que, quando atingidas, geram melhorias na fazenda. Fizemos a troca do nosso brete-balança por um mais moderno, implementamos a irrigação em todo nosso curral e confinamento, reformamos cercas e parte das moradias da equipe, ampliamos nosso confinamento, trocamos equipamentos: tudo com recursos que os colaboradores conseguiram economizar ou gerar retorno por meio dessas práticas. Todas essas melhorias são percebidas e comunicadas a eles.
O bem-estar também é repetição, é persistência, é reflexo de uma cobrança positiva associada às condições de trabalho. Uma vez ouvi de uma professora, referência na área, que se algumas fazendas que não cuidam nem da água dos colaboradores, como será possível cobrar que eles lavem o bebedouro dos animais? Devemos refletir se esses não estão sendo os pontos de falha em nossa propriedade.
A maior parte das mudanças está muito mais relacionada às atitudes do que aos motivos financeiros em si. Se puder investir em melhorias, ótimo. Se ainda não puder, comece pelo “feito é melhor que perfeito”, cuidando da seleção dos animais, exercendo o descarte daqueles mais reativos, fazendo escolinha antes dos manejos com constância, não agredindo os animais, reduzindo marcações a fogo (esse é um movimento possível e muito necessário!), cuidando das pessoas que fazem parte da sua equipe, treinando-as, sendo exemplo, fazendo um bom planejamento sanitário e nutricional, zelando das finanças da propriedade.
Cuidar da equipe é como cuidar de filho, todo dia é preciso retomar o porquê e pra quê fazemos as coisas, mas é um processo gradual e gratificante. Espero que consigamos, juntos, tornar nosso país um exemplo de CRIA SAUDÁVEL.
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