Notícia veiculada em 20/07/2021. Seus números podem ter sofrido alterações, porém os conceitos gerais continuam sendo de grande relevância para a pecuária de cria.
A genética é a maior razão custo x benefício de toda a pecuária. Essa é a afirmação do zootecnista e mestre em produção animal Antonio Chaker, diretor do Inttegra, em entrevista ao Giro do Boi, que resumiu as contas que o criador deve fazer para descobrir se vale a pena investir em touros provados.
Chaker revelou dois modos muito simples de o criador descobrir se está precisando investir em genética. “Você consegue desmamar bezerro com 240 kg sem creep (feeding)? Não? Então você precisa de touro! Você consegue entourar as suas novilhas com 14 meses e ter 80% de prenhez? Não? Então você precisa de genética! Você já abate o animal com 20 meses e 20 arrobas a pasto? Não? Então você precisa de genética! Então a genética é a maior razão benefício x custo de toda a pecuária”, sustentou.
O outro modo, “bem sertanejo, do jeito que a gente gosta”, conforme classificou Chaker, é a mera observação do plantel de matrizes. “Olhe para os animais da fazenda. O produtor olha para as vacas e para as bezerras. Quem é melhor? Se ele falar que a mãe é boa e a filha é boa, não está acontecendo melhoramento genético. As novilhas têm que ser muito melhores que as primíparas e as primíparas precisam ser muito melhores que as vacas. E o que é ser melhor? É ser mais precoce, mais profunda, mais ganhadora de peso”, resumiu.
Chaker também destacou alguns cálculos que comprovam o retorno do investimento a partir da constatação da necessidade de investir em genética, por meio do uso de touros provados – e motivo da excelente relação desse custo e benefício.
Quanto custa em média um touro melhorador?
“Um reprodutor vai custar até R$ 14.000,00. […] Vamos supor que entre o valor que eu pago num reprodutor provado e o valor que eu vendo um touruno, um touro descarte, normalmente temos R$ 7.000,00 de diferença. Vamos imaginar que compremos por mais ou menos R$13.000,00 ou R$ 14.000,00, vendamos por R$ 6.000,00 ou R$ 7.000,00 um touruno de quase 30@, então teremos R$ 7.000,00 para pagar dessa conta. Se jogarmos por baixo, um reprodutor desse vai deixar pelo menos 20 produtos por ano, vezes cinco (anos de idade produtiva), são 100 bezerros de produção. Se temos R$ 7.000,00 para depreciar desse touro e 100 bezerros, eu tenho R$ 70,00 por bezerro para depreciar. Se dividirmos R$ 70,00 por R$ 15,00, que é o quilo do bezerro, quanto quilos eu preciso a mais para pagar esses R$ 70,00? Eu preciso de cinco quilos, que paga e sobra essa conta. E, pode-se chegar a 30 quilos a mais na desmama”, calculou o consultor.
“E esse bezerro vai virar um boi. E esse boi vai sair seis meses antes da fazenda. […] Outra continha: se esse animal, que custa R$ 100,00 por mês na fazenda, fica seis meses a menos, são R$ 600,00 de redução de custo. Eu gastei só R$ 70,00 a mais. Então, não faz sentido algum economizar na genética, porque ela tem a potência de expressão”, concluiu.
Chaker destaca também o levantamento de benchmarking que o Inttegra realiza anualmente junto às fazendas parceiras, que valida a importância do investimento em genética. “Nas fazendas top rentáveis, os touros são provados? Sim! Existe alguma top rentável com boi de boiada? Não! Existe fazenda com prejuízo ou com resultado da média para baixo com boi de boiada? A maioria! Então é uma questão de evidência”, constatou.
Mas, o Brasil produz a quantidade necessária de touros para que todas as suas vacas em idade reprodutiva sejam enxertadas com animais provados? Ainda não, mas Chaker acredita que não seja um problema de potencial de produção.
O consultor estima que no Brasil existam cerca de 60 milhões de matrizes em idade reprodutiva, número em que baseou seu cálculo e seu raciocínio. “Dessas 60 milhões de matrizes que existem no Brasil, estima-se que menos de dez milhões fiquem prenhas com inseminação entre a primeira e a segunda dose. São 20 milhões de doses vendidas, onde mais ou menos dez milhões recebem a primeira dose e cinco milhões recebem duas doses. Acontece que sobram por volta de 53 milhões de vacas que precisam de touro, o que indica a necessidade de 1,8 milhão de touros no Brasil. E, se considerarmos seis anos de idade reprodutiva de um touro, estamos falando em uma necessidade anual de troca desses animais, na casa de 300 mil animais por ano. E se somarmos todas as associações e entidades produtoras, o que essa turma produz é perto de 160 mil. E a gente precisa de 300 mil. […] E dentro desses 160 mil, uma coisa é ser um reprodutor. Se você tem um macho inteiro, ele é capaz de reproduzir, que é o famoso boi de boiada. Mas, temos cerca de 25 mil touros que passaram por uma análise genética criteriosa e, no final das contas, os animais geneticamente provados realmente compõem um número muito pequeno. E a maior preocupação é o investimento de maior potência econômica, de qualidade genética. A maior potência de retorno econômico”, reforçou.
“Nós temos que arrumar 150 mil touros (por ano) a mais no Brasil e não faltam selecionadores no Brasil capazes de produzir esses touros. O processo é inverso. Falta o cliente, o próprio pecuarista demandar. Porque quem define naturalmente essa fábrica de produção é essa demanda. Então se os nossos produtores de touro dobrarem a produção – e essa é a minha visão – talvez ainda o mercado não esteja totalmente maduro porque, de repente, o camarada do boi de boiada não percebeu que está ganhando 1% do que vale a fazenda, que está ganhando R$ 300,00 por hectare, que a novilha é igual à mãe, não mudou nada e ele está vivendo numa bolha, cego, ... está se conformando com o ruim”, finalizou.
Data: 20/07/2021
Publicação: Giro do Boi
EM-BR-21-0117
Conteúdos relacionados
Programando um bezerro de qualidade
Com a atenção correta para a suplementação das vacas é possível produzir bovinos mais eficientes e com características de carcaça desejáveis.
Vantagens do creep feeding
O engenheiro agrônomo Eduardo Eifert, mestre em zootecnia e doutor em nutrição de ruminantes, fala sobre o sistema de intensificação rentável.
Estação de monta e escore corporal ruim
O início da estação de monta deve ocorrer mesmo com as vacas tendo escore ruim, pois adiando, você compromete a produção nos próximos anos.