Não adianta travar as cotações e deixar um furo na sanidade do rebanho. Riscos de todo tipo devem ser mitigados.
- Sanidade vista como um seguro
- Distância entre benefício e custo
- Considerações finais
Quando falamos de nutrição relacionada ao efeito direto sobre o ganho de peso e receita, as contas são mais claras. A adição de determinado produto à dieta resulta em um ganho extra, que é avaliado.
A sanidade, no entanto, tem uma análise um pouco mais sutil, dependendo do tipo de produto.
Um dos pontos que diferenciam a sanidade é que sua participação no custo total é pequena. Segundo o custo de produção elaborado pelo IMEA (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) para o terceiro trimestre de 2021, o peso do manejo sanitário e reprodutivo equivale a 3,9% e 4,1% do custo operacional total nas atividades de cria e ciclo completo, respectivamente. Para a recria e engorda, o item participou com 0,5%.
Aqui daremos alguns exemplos da sua relevância e do custo alto que a negligência pode ter.
Sanidade vista como um seguro
Quando ocorrem desvalorizações fortes do boi gordo, muitos pecuaristas buscam travar as cotações e usar seguros de preço, como opções. E disso podemos fazer um paralelo com a vacinação dos bovinos: ninguém vacina à espera de um surto, nem faz um seguro de carro porque deseja um roubo, assim como quem compra uma opção, não torce para que o mercado caia.
O ponto é que, quando a proteção falta, o impacto é forte. Para demonstrar, vamos simular o custo com vacinação contra clostridioses de um lote de mil bois magros que, para simplificar, temos o custo de R$ 1,20 por animal, ou seja, R$ 1,2 mil para a imunização do lote.
Dependendo da forma que a doença ocorra, a quantidade de animais acometidos pode ser alta, com mortalidade expressiva. E para demonstrar a amplitude potencial de um surto, em um estudo sobre surtos de botulismo em São Paulo e Mato Grosso do Sul, associados à ingestão de água, Dutra e colaboradores encontraram mortalidades variando entre 1,7% e 52,5%.
A figura 1 transforma essas mortalidades em valores, considerando o preço médio do boi gordo em São Paulo, de janeiro a outubro de 2021.
Figura 1. Estimativa de valor do gado perdido em diferentes taxas de mortalidade, em um lote de mil bois magros.
Fonte: Scot Consultoria
Uma mortalidade de 1% equivaleria a 10 animais, com perda de R$41,8 mil. Vendo de outra forma, se apenas um animal morrer por uma doença para a qual possui vacinação, como o botulismo, a perda seria o equivalente à imunização de 4,5 mil bovinos (R$ 4,2 mil dividido pelo preço da dose).
Uma economia de R$1,2 mil com a vacinação do lote deixa mais um risco à mesa, para um ativo de R$ 4,25 milhões (mil bois magros cotados a R$ 4,25 mil/cab, preços SP em 01/04/2022).
Distância entre benefício e custo
Outra forma de demonstrar o benefício de determinada tecnologia ou insumo é o custo-benefício. No caso de endectocidas, há inúmeros estudos abordando ganhos advindos do seu uso. No entanto, vamos a um exemplo mais simples, que já mostra como a conta fecha fácil para o produto.
Para um bezerro de 225kg de peso vivo, a dose de um endectocida 1% é de 5 ml, sendo 1 ml a cada 50 kg, que seria 4,5ml, arredondado para cima. Com duas aplicações em um ano, a um preço de R$ 0,42/ml, temos um custo anual de R$ 4,24 por cabeça com o produto.
A cotação média do bezerro de ano em São Paulo está em R$ 12,09 por quilo de peso vivo (base 01/04/2022), ou seja, o custo anual com endectocida equivale a 350 g de bezerro (peso vivo). Em outras palavras, se em um ano o produto, com todos os benefícios relacionados, gerar uma média de ganho de 0,95 g a mais por dia, o produto terá sido pago.
Considerações finais
O peso pequeno nos custos é um reforço à utilização correta e criteriosa de produtos relacionados à sanidade. Já temos riscos suficientes no próprio mercado, que também devem ser mitigados, para permitir que lacunas de sanidade ameacem todo o sistema produtivo.
Bibliografia citada
Dutra, Iveraldo & Döbereiner, Jürgen & V, Rosa & A.A, Souza & Nonato, Mário. (2001). Surtos de botulismo em bovinos no Brasil associados à ingestão de água contaminada. Pesquisa Veterinária Brasileira. 21. 10.1590/S0100-736X2001000200002.
Hyberville Neto – médico veterinário, msc.
Scot Consultoria
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