O início da fase de cria se dá bem antes da detecção da prenhez das vacas e até mesmo da fertilização destes animais. Um bom planejamento define o quanto de “dor de cabeça”, potencialmente, um produtor poderá ter na estação de parição.
Neste artigo exploraremos como preparar seu rebanho de cria, os cuidados dedicados às vacas de cria e as respectivas importâncias da vacinação e da colostragem.
- Preparação do rebanho de cria
- Cuidados dedicados às vacas de cria
- A importância da vacinação
- A importância da colostragem
Preparação do rebanho de cria
Preparar seu rebanho de cria ao longo de todo ano é fundamental para que ele tenha condições satisfatórias para conceber. Alguns dos parâmetros que colaboram muito na prevenção de problemas e auxiliam na obtenção dos melhores índices produtivos na cria são a adoção de programas nutricionais adequados e de critérios objetivos na escolha dos touros melhoradores que serão usados e que deverão ser adequados ao tipo (frame) do seu plantel, levando em consideração sua DEP (Diferença Estimada de Progênie) para peso ao nascimento para prevenir partos distócicos.
Dessa maneira, os cuidados devem levar em conta medidas de manejo diferentes para vacas adultas e novilhas primíparas, visto que compõem grupos distintos com demandas igualmente diversas.
Definidos esses pontos, estabelecem-se os cuidados ao longo de toda a gestação, que são finalizados com medidas sanitárias no pré-parto imediato e nas primeiras horas do nascimento do feto. Cria não é ambiente para amadores. Pequenos deslizes ou esquecimentos podem representar perdas que não podem mais ser revertidas durante a vida dos bezerros, acompanhando-os até o abate ou a vida reprodutiva.
A gestação das vacas dura em média entre 260 e 283 dias, com variações entre indivíduos e raças (Alfieri et al., 2019), sendo que no terço final desse período, há relevante crescimento fetal, bem como a preparação da vaca ao parto, com consideráveis incrementos nas demandas nutricionais e sanitárias.
Cuidados dedicados às vacas de cria
Em termos de sanidade, os cuidados dedicados às vacas de cria visam especialmente preservar a gestação, combatendo uma série de doenças infectocontagiosas como a Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR), Diarreia Viral Bovina (BVD), Leptospirose, Neosporose; dentre outras.
Algumas destas são passíveis de proteção por meio de programas de vacinação e medidas sanitárias rígidas, que devem ser adotadas antes do acasalamento e podem ser reforçadas ao longo do período gestacional.
A importância da vacinação
Na fase do pré-parto, recomenda-se um programa de vacinação que previna doenças que podem acometer os bezerros neonatos, estimulando a imunidade das mães e fazendo com que seus anticorpos sejam transferidos aos recém-nascidos por meio do colostro, em quantidade e qualidade suficientes para protegê-los, já nas primeiras horas de vida (imunidade passiva).
As vacinas mais indicadas são as que protegem contra as principais causas de diarreia dos bezerros, tais como (E. coli), vírus (coronavírus e rotavírus) e Salmonelose; bem como clostridioses, doenças reprodutivas, etc.
Este procedimento é fundamental, pois como a placenta dos bovinos impede a difusão de anticorpos da mãe aos filhos durante a fase fetal, os bezerros nascem suscetíveis aos agentes causadores de doenças presentes no ambiente.
A imunidade passiva é a proteção imunitária do bezerro equivalente aos desafios sofridos pela mãe (naturais ou adquiridos pela exposição às vacinas), correspondendo às doenças comuns da fase e existentes na fazenda.
A importância da colostragem
Muito se conhece sobre a importância da colostragem em gado leiteiro, mas é um tema pouco mencionado em gado de corte. Salvo em casos de partos distócicos e laboriosos, nos quais o neonato fica privado do contato com a mãe por muitas horas ou caso ela não se levante em decorrência de problemas locomotores pós-parto que lhe impeçam de amamentar precocemente sua cria, são raros os casos de falhas colostrais perceptíveis.
Essa “melhor colostragem” se dá pelo simples fato de que há menor produção de leite pelas vacas de corte em comparação às de aptidão leiteira, ocorrendo uma menor diluição dos anticorpos (especialmente da IgG1) no volume de colostro produzido.
Isso faz com que bezerros de corte necessitem ingerir menores volumes de colostro para obter a imunidade passiva (atingida com 3 a 4 L), enquanto os bezerros de “vacas leiteiras” demandarão consumos bem mais elevados (6 a 10 L) para alcançar o mesmo status de defesa imunitária (Guy et al., 1994). Os autores identificaram uma maior concentração de IgG1 no colostro de vacas de corte (113,4 mg/ mL) se comparadas às de leite (42,7 mg/mL), o que confirma o menor volume necessário de colostro nas primeiras horas, aportando maiores quantidade de anticorpos.
Vale ressaltar sempre que primíparas naturalmente têm colostros com menor carga de anticorpos e, portanto, a vacinação é imprescindível à essa categoria da cria, sendo sempre recomendado manejar separadamente novilhas primíparas e vacas multíparas. Essa divisão é importante já que as demandas podem variar e os lapsos sanitários e nutricionais com as categorias jovens poderão comprometer toda a vida produtiva futura, tanto da mãe quanto da progênie.
Além da proteção individual, outro benefício da vacinação é a formação da IMUNIDADE DE REBANHO, que corresponde à geração de um grupo de indivíduos imunizados contra uma determinada doença simultaneamente, reduzindo, dessa forma, a circulação dos patógenos e as chances que indivíduos susceptíveis encontrem infectados e vice-versa (Tizard, 2021). Quanto maior a cobertura vacinal, maior o “cinturão” de proteção contra os agentes de risco potencial.
Organize, em conjunto com seu médico veterinário, o programa sanitário do rebanho e prepare suas matrizes para uma gestação tranquila e venham a parir no ápice de sua condição nutricional e sanitária. Isto se converterá em renda na cria.
No próximo artigo, vamos ver os primeiros passos do bezerro neonato, os desafios enfrentados e as estratégias a serem adotadas para que cheguem o melhor possível à desmama.
Referências bibliográficas
Alfieri, A. et al. 2019 “Sanitary program to reduce embryonic mortality associated with infectious diseases in cattle”, Anim. Reprod., 16.3: 386-393.
Guy, M. et al. 1994 “Regulation of Colostrum Formation in Beef and Dairy Cow”, J. Dairy Sci. 77.10: 3002-3007.
Tizard, I. 2021 Chapter 8 - Vaccine Administration. Vaccines for Veterinarians, p. 87-103.
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